Como se começa um desenho?

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Pode parecer algo simples para uns, mas para outros a resposta para esta pergunta pode valer muito, dado que, as possibilidades de se iniciar um desenho são diversas. Mas afinal, como se começa a desenhar do jeito certo? Quais são as etapas?

Pelo começo, claro! Seria bom se fosse mesmo tão fácil assim; mas o que tenho notado durante todos estes anos, pela ótica de um professor de desenho, é ver desenhistas dos mais diversos perfis iniciarem seus desenhos de diferentes formas ou repetindo um padrão que influencia na qualidade de seus resultados. Partindo dessa premissa, a ideia deste post não é ditar regras, mas sim ajudar você a saber melhor o que está fazendo, afinal, o desenho é seu e você faz o que quiser. Por isso, vamos abordar alguns pontos importantes…

Por mais que você entenda as orientações a seguir, o fato é que a ordem de se aplicar algumas delas poderá variar conforme as intenções e técnicas de cada um; mas algumas são a base, e portanto, fundamentais para se realizar um desenho. Outro ponto é que, quando um desenhista desenha bem, mas usando um método incomum e dificultoso, não quer dizer que aquela forma irá servir para outro desenhista aprender e aplicar, haja vista que por questões de personalidade e vivência pessoal, cada um possuirá habilidades e limitações que implicam em métodos mais específicos para aprenderem melhor, que sejam mais eficazes. Por isso que podemos ver pessoas que desenham incrivelmente bem no Microsoft Paint, mas não tão bem no lápis; outras que desenham bem no digital, mas passam perrengue no tradicional, e vice versa; e claro, isso não é uma sentença, apenas mostra que cada qual é único e demanda um peculiar dedicação para aprender determinados conteúdos, pois se entende e tem prática de um modo, terá mais chances em outro.

Mas antes de você pegar no lápis, você precisa entender duas coisas, que explico a seguir.

Os dois caminhos do desenho

Isso antecede qualquer desenho porque é mais um esclarecimento que o desenhista deve ter, e um ponto geralmente pouco observado pelas pessoas. Se você pretende apenas reproduzir a imagem que está vendo em desenho, seja ela um modelo vivo (pessoa, animal, etc.) ou mesmo um desenho ou foto; você terá como meios o uso de suas habilidades de observação, coordenação motora fina, processos cognitivos relacionados ao hemisfério direito do cérebro e de alguns conhecimentos sobre os fundamentos de desenho.

Mas se precisar dar vida a ideia de alguém, ou mesmo a sua, tal como ilustrar esta ideia, precisará de conhecimentos prévios mais afiados, seja de anatomia, perspectiva, teoria das cores, enfim, elementos completos da teoria do desenho, relacionados aos fundamentos.

A dificuldade destas duas formas de desenhar, desenhar observando ou ilustrar uma ideia, serão proporcionais à dificuldade que está pretendendo, mas só consolidam na medida da sua capacidade, do seu talento. Assim vemos que, uma coisa é o que mentalizamos, outra é o que conseguimos cumprir, se considerarmos o preparo que cada pessoa tem sobre estas possibilidades. Dominar um ou outro em um ou mais estilos de desenho, pode lhe deixar especialista; mas é inegável que os conhecimentos de um caminho agregam na qualidade de outro.

Planejamento

Preparando-se para desenhar, esta é a parte de pensar um pouco e se preparar… O que você vai precisar para realizar o desenho? Conforme sua experiência, assim que definir seu objetivo, na sequência precisará escolher quais materiais utilizar, qual estilo de desenho trabalhar (mangá, cartoon, figurativo, acadêmico, etc.), estará selecionando um tipo de traço específico para arte-finalizar; e enfim, definirá os elementos que precisa para cumprir sua missão.

Vale ressaltar que neste ponto, algumas pessoas, pela grande experiência e padronização do seu trabalho, simplesmente agem naturalmente, buscando o que precisa, seja: uma ideia, materiais adequados, padronização, etc; pois a tarefa de desenhar já se incorporou, exceto no caso de trabalhos específicos e atípicos, que requerem uma pesquisa mais profunda e até mesmo uma qualificação.

Os iniciantes, com pouca habilidade, tendem nessa etapa, a cair em extremos, simplificando demais ou complicando o processo, gastando mais tempo vendo materiais, comprando ferramentas desnecessárias e até mesmo gastando muito tempo vendo os tutoriais, ao invés de estar realmente desenhando. Portanto, a dica é, busque planejar, mas seja objetivo, para não se perder no caminho.

Mão na massa!

Chega a hora de começar a desenhar. E para facilitar seu entendimento, vou apresentar alguns passos importantes a seguir, válidos para ambos os caminhos.

Esboço

Antes de sair desenhando e arte-finalizando o desenho, o importante é fazer um esboço, que é uma estimativa simplificada de traço do que será desenhado com um lápis, com traços leves, destacando os contornos principais, e transformando as partes grandes a uma combinação de formas geométricas simples. Alguns faz isso com traços mais rabiscados, outros com traços mais concisos, mas, o importante é definir dos detalhes maiores para os menores; pois assim lhe auxilia a não cometer grandes erros na proporção.

Veja que, uma cabeça humana pode inicialmente virar uma forma oval, um pé ou mão podem virar um trapézio, entre outras possibilidade que você pode escolher; pois o importante é sintetizar cada parte a uma forma que você entenda. Isso é importante, principalmente para um iniciante, porque a possibilidade de erro é grande, ainda mais se tratando da proporção, que iremos explicar mais a frente. Quem desenha por pequenas partes no início e já coloca os traços finais e fortes, quando errar e precisar apagar, terá borrões, marcas no papel. Enfim, o esboço é uma estimativa que supre nossa dificuldade inicial com a proporção das formas. Se você não tivesse tanto essa dificuldade com a proporção, você seria um Kim Jung Gi, desenharia direto.

Uma referência importante

Obviamente os traços precisam ter coerência entre si, mas é preciso um cuidado que muitos deixam passar, que é a analisar o conjunto de traços do desenho com os cantos e laterais da folha, dentro da sua área de trabalho! Sem considerar isso seu desenho pode pender mais de um lado ou de outro; coisa que geralmente alguns iniciantes só percebem no final, forçando uma impressão de que o personagem ou a toda a composição está fora do ponto de equilíbrio, caindo. Isso é algo que precisa ser considerado desde o primeiro traço.

Proporção

Ao desenhar, use sua imaginação ou até mesmo uma régua para estimar a dimensão de cada elemento do desenho dentro da folha. Isso é importante para ficar um visual harmônico, ao desenhar cada elemento, e evitar que uma parte do desenho fique para fora da folha devido a um mal cálculo, detalhe que muitos só percebem no final. Proporção é a relação entre duas ou mais razões. Assim podemos perceber que, independentemente de se desenhar uma figura humana, pequena ou grande, o que precisa ser mantida é o tamanho de cada parte do corpo em relação ao todo. Veja que por proporção, mesmo que desenhemos em qualquer tamanho de superfície a figura humana que tenha 8 cabeças, pois no estudo de anatomia a cabeça é uma unidade de medida, devemos desenhar sempre o restante do corpo com no máximo 7 cabeças de altura, senão estaremos deturpando essa matemática.

Neste padrão de medida, a altura das pernas é equivalente a quatro cabeças de altura; o comprimento dos braços lateralmente, de dedo a dedo equivale a altura de 8 cabeças, etc. Isso acontece porque faz parte das medidas da natureza humana quando segue esse padrão (ou 7,5 a mais comum), e se estiver muito fora disso, as pessoas ao olharem tal imagem, ficarão incomodadas, dado que essa matemática já faz parte da nossa percepção. Se estiver olhando e desenhando outra imagem, tudo o que desenhar, precisará verificar a proporção antes.

No caso de uma árvore, a proporção se relaciona com a largura e altura da copa da árvore em relação a seu tronco, e sendo assim, mesmo que a árvore seja grande, a informação que lhe dá a qualidade de copa pequena ou grande, de caule estreito ou mais grosso, é a sua poporção.

Composição

Você deverá guiar o olhar de quem observar seu desenho. Isso poderá ser algo simples ou complexo; mas o importante é evitar grandes desconfortos.

Para entender melhor, vamos fazer uma comparação com uma fotografia boa que você hipoteticamente vai tirar, seguindo as seguintes dicas. Se o seu foco é mostrar alguém, você deverá centralizar essa pessoa na foto, de corpo inteiro, o busto, ou ao menos valorizando a cabeça. Se houver duas pessoas lado a lado, você tira a foto de modo que o centro esteja entre as duas pessoas e seguindo a ordem de prioridade: rosto, busto ou corpo inteiro. Se sua ideia é mostrar as duas pessoas e uma paisagem de fundo, o centro dessa fotografia deverá estar entre as duas pessoas, ou de modo que as duas pessoas e o fundo estejam devidamente enquadrados.

Sendo assim, seus esforços no início do desenho é fazer um esboço (os traços maiores), considerando a posição e proporção de cada traço conforme esta composição harmônica que resolveu adotar. Por mais pesada que seja a cena, ou mais alegre, o foco é mostrar o que precisa sem criar desconfortos visuais em quem ver. Já pensou em desenhar uma pessoa e ter de deixar a cabeça porque não coube na folha?

Espaços e guias

Todo desenho possui espaços positivos e negativos, o primeiro sendo as partes que você desenha de um personagem, acessório, animal, etc; e o segundo sendo a parte externa que tendemos a ignorar, a parte não desenhada. Ambas são uma excelente forma de pegar referências geométricas para copiar ou mesmo memorizar padrões geométricos; afinal, a tendência nossa é perder as informações quando tentamos compreender o que vemos, devido a seu tamanho número de informações.

Quando você fragmenta trechos de um desenho para tentar memorizá-lo por alguns instantes ou mesmo para criar um arquivo mental; você tem mais poder de memorização; porque além de compactar a informação, você utiliza figuras geométricas diversas, das quais já possui na memória.

Isso vale também para guias, que você pode utilizar ao desenhar, seja de linhas horizontais ou diagonais ou seja, parte “x” do desenho está à direita de parte “y” do desenho, num alinhamento horizontal. Assim as partes são referências que você pode definir.

Esteja ciente de lutar contra alguns vícios

Não é brincadeira, mas nossa imperícia abre margem para a atuação de alguns vícios que nos atrapalham a desenhar, mas vou citar os mais comuns.

Um deles se refere a tendência de olhar um desenho e desenhar o que achamos e não o que estamos vendo, isso é muito comum, dado que nossa mente possui vícios, de interferir e repetir um modelo básico, um signo estigmatizado. Independente do seu nível de desenho, você perceberá que seus desenhos tendem a ficar de um jeito específico, seja com uma boca grande, um olho muito arredondado, um cabelo liso, enfim, aqui irá depender do quão foi desenvolvido o vício, alguns afetará mais, outros menos. Por mais que as pessoas tenham um tipo de nariz igual, as diferentes circunstâncias que envolvem um desenho, como, por exemplo o ângulo da cena ou perspectiva, são o suficiente para deformar os contornos de um nariz.

Desenhar sobre uma superfície plana como uma mesa comum poderá deformar seu campo de visão em detrimento da perspectiva. Sentado em uma mesa, aquilo que está próximo ao desenhista, tende a se tornar maior, e o que está mais longe, menor. Logo quando levantar e olhar o desenho, ou alguém olhar por cima, perceberá alguns incômodos, pois esta visão centralizada em todos os pontos da folha, que é a adequada, revela-nos que não era bem aquilo que estava vendo quando estava sentado. Por isso uma mesa de desenho tende a reduzir o problema, dado que sua base é inclinada.

Arte-final e contornos

Nessa etapa você irá realizar os contornos com algum marcador, e apagar em seguida o lápis que serviu de esboço. Aqui você irá tomar mais cuidado para criar os traços definitivos se for um desenho estilizado.

Sombreamento e cores

Após definidos os contornos do desenho estilizado, ou o esboço, no caso de desenhos realistas; chega o momento em que você precisará colocar sombras e cores.

Aqui irá demandar um estudo aprofundado de luz e sombra, além de teoria das cores, se quiser é claro, deixar um bom acabamento. Assim finalizamos o desenho!

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