O que é arte?

Em meio ao universo dos desenhos, nós desenhistas estudamos e fazemos diversas coisas das quais se esbarram no que popularmente as pessoas concebem como arte; seja pela técnica utilizada, no impacto visual que ela causa, no que a obra emana; enfim em uma série de características próprias do ofício que geralmente são associados como arte. Obviamente isso acontece em outras atividades artísticas, sejam as que são exercidas pelos músicos, atores, escultores, entre outros.

Se estudarmos a história, veremos que desde a antiguidade há indícios variados do que popularmente as pessoas consideram como arte, e, que mesmo com formas diferentes, possuem pontos de contato, dando um forte indício de de que há algo atemporal. É certo que muita das vezes as pessoas julgam o que é arte baseando-se unicamente na opinião que elas tem sobre a forma; mas, mesmo que o conceito não esteja totalmente claro, é certo que as pessoas são susceptíveis a contemplá-la e extrair uma experiência, que com certeza irá variar de grau, conforme o nível de consciência de cada um e nível cultural.

Assim como eu, você provavelmente teve o contato com trabalhos artísticos que de alguma forma lhe deixaram de queixo caído, fazendo-lhe sentir coisas que você mal sabia compreender ou explicar. É uma situação também parecida quando você vê uma bela paisagem natural e fica deslumbrado pela tamanha beleza, como, por exemplo, o pôr-do-sol. E nesse último caso poderíamos até nos perguntar “Por que o pôr do sol é bonito?”, uma questão básica, tão importante quanto questionar o por quê de um determinada arte ser bela, impactante.

Muitos podem não saber explicar, mas independentemente disso, o fato é que toda pessoa normal percebe a beleza que há no pôr-do-sol, porém em diferentes níveis, até porque depende de vários fatores que interferem nisso, como o próprio envolvimento com a natureza, a correria do cotidiano, a consciência de cada um, nível cultural, entre outras coisas.

Sim, alguns ficam deslumbrados por sua tamanha beleza, não só devido a forma, mas por sua potência, pontualidade em que nasce, capacidade de nos dar a vida, capacidade de iluminar nosso dia, de cumprir seu papel mesmo sabendo que muitos ainda não lhe dão a mínima, etc. E inclusive, toda essa beleza do pôr-do-sol tem algo de atemporalidade, que já foi o motivo principal de infinitas poesias, músicas, textos, pinturas, em diferentes momentos históricos, não só referenciando-o como astro, como principalmente sua indescritível magnitude.

Assim como o sol a natureza em geral encanta o ser humano, seja pelo mar, a montanha, o céu, entre outros. Já reparou que muita das vezes as pessoas são movidas a tomar decisões baseadas na natureza? Uns compram uma casa de frente para uma bela vista natural, outros que fazem uma viagem para simplesmente aproximarem de uma montanha, uma praia, um rio, etc. Há algo que lhes fazem querer contemplar estes lugares, algo que lhes promovem uma verdadeira catarse.

 

Mas, o que isso tem a ver?

Entre as pessoas que vislumbram-se com a natureza, há inclusive os pintores, desenhistas; que resolveram exprimir em uma pintura, não só aquilo que lhes parecem esteticamente belo, mas o que está por trás disso. Mas para isso tiveram que respeitar regras, seja copiando a imagem da natureza ou mesmo baseando essencialmente em uma ideia que ela lhe revela. E o interessante é que quanto maior a maestria do artista, mais chances dele tocar positivamente a alma das pessoas que contemplam sua arte, seja através de um sentimento, ideia, experiência, e até mesmo facilitar a aproximação de entendimento do observador às leis atemporais, porém através de uma linguagem didática e até lúdica, para que o observador enxergue no seu nível, aquele conhecimento que o artista já andou mergulhando a fundo. É inclusive essa maestria dos artistas que criam as famosas catarses, efeito que inclusive já instigou muita gente a:

  • Ficar feliz por um bom período;
  • Largar das drogas e se dedicar a arte;
  • Elevar sua consciência;
  • Dar importância a assuntos mais nobres;
  • Impulsionar a si a encontrar sua vocação;
  • Compreender uma ideia que antes tinha dificuldade;
  • Instruir outros através da arte;
  • Enxergar o transcendente que há para além da forma;
  • Entre muitos outros casos.

Mas onde está a lógica desses efeitos? Está para além da forma, da cor, do movimento; e sim das leis e forças sutis que se estabelece todo o cosmos, e que para muitos é uma consciência superior, chamada Deus. Mas para canalizar isso, artistas e não artistas precisam beber das fontes de conhecimentos científicos, físicos, religiosos, entre outros mais, uma engenhosidade que só os grandes artistas aprendem durante a vida a manejar e expressar.

Buscando a etimologia da palavra arte, veremos que ela vem do latim ars; corresponde ao termo grego techné (técnica); significa: o que é ordenado ou toda espécie de atividade humana submetida a regras, o como fazer; desta maneira a obra ou trabalho realizado expressa criatividade, estética, entre outros valores, aproximando daquilo que nós contemplamos na natureza. É bom destacar que estas regras não vêm totalmente da opinião dos artistas, pois são principalmente baseadas na natureza, que por sua vez são baseadas nas ideias arquetípicas; afinal a natureza é a sombra das ideias, pois ela ainda não é totalmente perfeita. Há inclusive frases de filósofos que se atém a esta ideia, veja:

“Toda arte é imitação da natureza.” (Sêneca)

“Se o belo, no nível inferior próprio da arte, consta da imitação ou da representação do que existe no mundo das sombras, qualquer imitação do que é passional, caótico, turvo ou malvado deve ser reprovada.” (República de Platão)

Nesta última Platão não só destaca a arte como a sombra da sombra (pois a natureza é a sombra do  mundo das ideias, assim o artista é um mero imitador), como também reprova aquilo que é caótico; onde podemos inclusive incluir obras sem nexo da atualidade que cada vez mais nos confundem do que realmente despertam alguma coisa; pois, estão ainda mais distantes do que realmente é verdadeiro. Hoje o pessoal faz e considera certos trabalhos como arte, sendo que na verdade estes trabalhos não passam de uma externalização de loucura do próprio “artista”; trabalhos que inclusive necessitam de todo um tratado para explicar a obra, ou seja, a arte do cara é tão ruim que não se pode sentir nada ao contemplá-la, há que ler toda uma explicação para entendê-la.

 

Por que essas aberrações da “arte” valem milhões?

Primeiro, pela paulatina queda de valores em nosso momento histórico, e  que indefinitivamente reflete na qualidade das coisas que fazemos, e segundo pela lei da ressonância; ou seja, aqueles que pagam caro por estas pinturas só estão se identificando com a loucura criada por outra pessoa, achando que estão fazendo a melhor das compras. Isso começou no Romantismo, quando a arte começou a ser produzida com uma mentalidade em que se encerrava em si mesma, abrindo paulatinamente mão do que anteriormente havia sido cultivado com zelo, sua preciosa mensagem; assim foi se perdendo, até chegar no Impressionismo (XIX), até perder-se mais e mais, até se rebelar com os cânones da arte e interferir em sua forma.

Nos tempos atuais, em uma galeria onde revende esse tipo de trabalho não indica que o proprietário do negócio seja totalmente sem noção, mas para ele vender uma obra dessas pode ser uma ótima oportunidade de ganhar dinheiro; pois, há muita gente disposta a pagar caro por ela.

Ainda que o capitalismo dos tempos atualis não seja de todo ruim, existe uma mentalidade nele que visa o lucro em menos tempo, e sendo assim, na maioria das vezes nem todas relações irão se submeter ao que é bom.

 

Um legado inspirador

Voltando a falar da arte como imitação da natureza, gostaria de destacar que muito do que usamos no desenho e na pintura, se deve do esforço de grandes mestres da antiguidade que estudaram a fundo a natureza e a decodificaram de uma forma que pudessem obter uma maior autonomia na hora de reproduzi-la, não só visualmente como ainda transmitir seus efeitos. A própria perspectiva mesmo que usamos imita o fenômeno óptico reproduzido pela visão, o que por sua vez nos auxilia a compreender melhor o espaço que enxergamos. Leonardo da Vinci mesmo foi um dos artistas a debulhar o estudo da perspectiva.

Adoração dos Magos

Além do que é basicamente utilizado pelos artistas, há algumas artimanhas da natureza que foram estudadas por mestres da antiguidade e que posteriormente foi muito utilizado para reproduzir efeitos parecidos em suas obras, como por exemplo, o efeito estético causado pelo número de ouro, seja nos minerais, nas plantas, nos animais e nos seres humanos.

Girassol

Veja agora representação do próprio Partenon, ele segue as proporções do número de ouro.

Partenon

Quem sabe a verdadeira importância desse número, imita-o com o objetivo de atrair olhares, seja numa obra de arte ou até mesmo num mero cartão, veja:

credit-card

Da Vinci muito esperto o utilizou em sua tão famosa pintura, Monalisa.

Monalisa

 Eu poderia estender esta postagem com diversos outros exemplos, incluindo até as pinturas de Botticelli, Leonardo, entre outros; mas, quero apenas finalizar esta parte enfatizando que grande parte das pinturas mais antigas e famosas, incluem em suas composições o emprego das proporções de ouro, com destaque até do período renascentista, onde os pintores da época tiveram acesso a inúmeros conhecimentos dos gregos, entre eles a própria proporção de ouro.

Com relação ao desenvolvimento pessoal, podemos notar que arte é bem generosa neste ponto; já reparou quantos valores podemos aprender e acessar neste caminho? Isso é arte, e não é a toa que o termo “artes” em “artes marciais” se refere a esse desenvolvimento. Artistas podem ter seus defeitos pessoais, mas trilhando o caminho da arte acabam evoluindo bastante, seja desenvolvendo a paciência, o amor pela sua arte e pela natureza, a observação, o aprimorando de sua sensibilidade, acessando conhecimentos matemáticos; enfim, daqui a diante daria até um livro de valores e princípios, mas pretendo apenas citar alguns deles para que você tenha uma noção do grande desenvolvimento pessoal ao qual eu me refiro.

 

Minha conclusão:

A arte é um caminho, que faz a ponte entre o visível e o invisível, capaz não só de promover no artista a capacidade de desenvolver valores como também expressar em suas obras, a sombra das leis que regem o nosso universo, e consequentemente dar um pequeno gostinho desse caminho a aqueles que contemplarem seu trabalho. A verdadeira arte imita a natureza, que por sua vez nos põe cada vez mais próximos da nossa verdadeira essência; seja através do que é bom, belo e justo.

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